terça-feira, 23 de setembro de 2014

As Pontadas Abdominais (Dor de burro)

De uma forma geral, poderemos dizer que existem três tipos diferentes das chamadas pontadas abdominais, também vulgarmente conhecidas pelos corredores como "Dor de burro".

1- O mais conhecido e frequente corresponde a uma insuficiência circulatória aguda. O coração não desempenha completamente a sua tarefa de bomba aspirante face ao esforço físico que lhe é exigido. O sangue venoso bloqueia-se ao nível do fígado ( lado direito do abdómen ) ou no baço (no lado esquerdo), órgãos que, assim congestionados, tornam-se dolorosos.

É esta a famosa "Dor de burro"que, de uma forma geral, ataca todos os jovens nas suas primeiras corridas, os novos amantes da corrida ainda insuficientemente treinados em endurance ou, ainda, e por estranho que pareça, os corredores bem treinados, mas que correm em competição para além das suas possibilidades físicas de momento.

Estas pontadas também costumam aparecer logo no início das corridas, o que é devido a um mau aquecimento, relativo ao esforço que o corredor vai efectuar. Neste caso, o coração não foi acelerado para assegurar o débito sanguíneo exigido por esse mesmo esforço e o atleta em plena corrida, vítima desta pontada, é obrigado a diminuir o seu andamento.

Nestes casos, por vezes, é bastante eficaz intensificar a respiração, insistindo particularmente em numerosas, fortes e prolongadas expirações. No decorrer destas expirações forçadas, pode também pressionar-se fortemente com as mãos o lado dolorido do abdómen, a fim de comprimir o órgão congestionado.

Nada melhor do que prevenir este estado através de um treino bem conduzido e impondo um ritmo de corrida de acordo com as possibilidades de cada um e com o grau de treino já efectuado.



2- O segundo tipo de pontada corresponde a uma dor muscular ou tendinosa dos abdominais ou do diafragma. Esta pontada abdominal traduz-se sempre por uma dor quase idêntica, bem localizada, aparecendo ao fim de certo tempo de corrida e muitas vezes sem qualquer relação com o andamento aplicado.

Trata-se de uma dor inflamatória, de uma tendinite ou de uma velha cicatriz de lesões musculares, motivada por acidente sanguíneo. Com efeito, o corredor que começou a ficar cansado vê o seu teor de ácido láctico aumentar ao nível sanguíneo. Muitas vezes, estes corredores têm por hábito efectuar um tipo de ginástica abdominal incorrecta. Claro que os músculos abdominais exercem uma acção fundamental na corrida ( suportam as vísceras abdominais e possuem uma acção vital no mecanismo respiratório ) e daí a necessidade de os desenvolver correctamente e de uma forma mais ou menos frequente. Contudo, será bom evitar musculá-los numa posição incorrecta ou numa contracção bastante prolongada. A musculação estática favorece, com efeito, as lesões das diferentes componentes músculo-tendinosas.

Para curar este tipo de pontadas abdominais aconselho uma completa interrupção da ginástica abdominal durante um período variável de um a dois meses, seguida de um cauteloso programa de musculação dinâmica, executado em diferentes séries curtas e de uma forma progressiva e tecnicamente correcta.

3- Por último, analisemos o terceiro caso típico de dores abdominais cuja origem é digestiva.

A digestão exige um afluxo sanguíneo ao nível do abdómen, favorecendo, assim, a congestão dos órgãos abdominais. Este caso de dor de burro aparece frequentemente nos corredores que não respeitam a regra das 4 horas exigida pela última grande refeição anterior à corrida. Na realidade, é necessário cerca de 3 a 4 horas para que uma refeição normal seja bem digerida.

A pontada abdominal pode também aparecer sob a forma de uma dor de origem intestina, motivada pela hiperfermentação dos glúcidos ( açucares ) ou hiperputrefacção de carnes no colon direito. Estas pontadas podem normalmente aparecer nos atletas que abusam de féculas ( colite direita ) ou de carnes ( colite esquerda ).

Para as evitar, o ideal será tentar seguir uma dieta equilibrada, que não exclui, no entanto, o regime hiperglúcido dois ou três dias antes de uma corrida importante.

Como se verifica, as causas são várias. O corredor que costuma ter estas dores com frequência deve analisar o problema para tentar descobrir as suas causas. Na maior parte dos casos, penso que o ideal será, o corredor ser o seu próprio médico...

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