“A arte da medicina consiste em divertir o paciente enquanto a natureza cura a doença.”
Voltaire
Nota prévia
Há dias fui fazer umas análises de rotina e o meu
colesterol total estava a 287 mg/dL. Isto signfica que, segundo a American
Heart Association, estou num nível não desejável e em alto risco de
desenvolver doença cardíaca. Segundo esta organização de saúde, o colesterol
ideal deve situar-se abaixo dos 200 mg/dL. Felizmente, não me receitaram
nenhuma medicação para baixar o colesterol, disseram-me apenas para fazer
algumas mudanças no meu estilo de vida, nomeadamente no que diz respeito à
alimentação, porque perceberam que fazia exercício físico com alguma
regularidade.
No nosso mundo moderno, o colesterol tem sido tratado
como um vilão graças aos promotores da hipótese dieta-coração, ou seja, de que
a ingestão de gorduras saturadas e de colesterol produz placas, estreitamento
das artérias coronárias e, eventualmente, enfarte do miocárdio.
Muitas pessoas andam a tomar a pastilha para baixar o
colesterol (vulgo estatinas) porque pensam que desta forma vão prevenir ataques
cardíacos e viver com mais saúde. No entanto, não é isso que tem acontecido e
as taxas de mortalidade não têm diminuído. Não é ter o colesterol baixo que faz
bem à saúde!
O estudo de Framingham, o
estudo de maior duração e talvez o mais signficativo efetuado até à data,
demonstrou que a ingestão de colesterol na dieta não tem qualquer correlação
com doença cardíaca. O nosso corpo tem a capacidade de produzir mais ou menos
colesterol em função daquele que ingerimos e o colesterol da dieta tem muito
pouco efeito no aumento do colesterol no nosso corpo (se calhar já ouviu dizer
que era preciso comer menos ovos por causa da gema, que é, por acaso, a parte
mais nutritiva do ovo). Lembre-se disto: a causa do colesterol elevado não é o
colesterol que ingerimos, nem as gorduras saturadas.
O colesterol é uma das substâncias mais importantes do
nosso corpo e a verdade é que as nossas células e os nossos órgãos precisam
dele para podermos viver. Inibir a enzima que está envolvida no processo de
formação do colesterol (HMG-COa reductase) – que é o que acontece quando se
tomam as tais estatinas – pode trazer consequências desastrosas no longo prazo,
como vamos ver em seguida.
Os mitos do colesterol
Mito nº 1 – O colesterol causa enfartes do miocárdio.
Mito nº 2 – As estatinas (grupo de fármacos utilizados
para diminuir o colesterol) são seguras e vão prolongar a sua vida.
As notas mais
importantes
1) Metade das pessoas com colesterol normal têm doença
cardíaca e metade das pessoas com colesterol elevado têm corações normais.
2) O colesterol é um componente vital nas nossas vidas
e precisamos dele para a produção de hormonas, vitamina D, função celular,
função cognitiva, pele e para nos proteger de infeções no intestino, pulmões e
de acidentes vasculares cerebrais.
3) De acordo com alguns estudos na Europa, quanto mais
alto o colesterol, mais tempo vamos viver. No estudo de Framingham as pessoas
com o colesterol mais elevado viveram mais tempo.
4) Foi-nos dito há várias décadas atrás que o
colesterol na comida elevava o colesterol no nosso corpo mas isto foi baseado
em investigações mal efetuadas nos anos 60 e 70, esses estudos não podiam ser
publicados hoje. Aliás, esses estudos demonstraram que o colesterol é um
mau preditor de doença cardíaca.
5) A verdadeira causa da doença cardíaca é a
inflamação, é esta que forma a placa nas artérias e normalmente está associada
ao excesso de peso, ao que comemos e ao açúcar. O açúcar é que é o
verdadeiro inimigo, o vilão!
6) As estatinas são drogas anti-inflamatórias e baixam
o colesterol mas o colesterol não é a verdadeira causa de doença cardíaca e têm
muitos efeitos secundários. As estatinas podem ter alguma utilidade para homens
de meia idade com doença coronária (de preferência aqueles com colesterol HDL
baixo). Para as mulheres e crianças, estas drogas não têm nenhuma utilidade.
7) Alguns efeitos secundários das estatinas são: diabetes, cancro,
perda de memória, calcificação nas artérias coronárias, disfunção sexual, dores
musculares, fadiga, problemas no fígado. Nós não ouvimos falar disto porque
esses casos não são reportados como deveriam.
8) O estudo Women’s Health Initiative mostrou
que as mulheres pós menopausa que tomaram estatinas, tiveram uma incidência de
48% de diabetes; no Jupiter Study, em mulheres mais novas, houve
uma incidência de 13%. As mulheres precisam de ter cuidado com isto, já que
estas drogas podem predispor as mesmas para o cancro também.
9) A ideia é, portanto, baixar a inflamação crónica
para manter o coração saudável, não é baixar o colesterol para manter o coração
saudável. Como se pode fazer isso? Através da comida, da redução do stress, do
exercício físico e de vários suplementos anti-inflamatórios como por exemplo o
óleo de peixe e a vitamina D (apanhar sol de vez em quando é boa ideia).
10) É importante fazer o teste de partícula do
colesterol LDL. Nem todo o LDL é mau. Temos o LDL A, que é composto por
partículas grandes e flutuantes e temos o LDL B, que é composto por partículas
pequenas e densas. O LDL A é completamente inofensivo enquanto que o LDL B é
especialmente perigoso porque é aquele que se cola à parede das artérias
causando inflamação, placa e o desenvolvimento de doença cardíaca.
11) O problema na sua dieta é o açúcar, não é a
gordura saturada.
Conclusão
Baixar o colesterol por si só não é a solução para viver com mais saúde e
prevenir doenças cardíacas. Como vimos existem outros fatores bem mais
importantes que este, como por exemplo controlar os nossos níveis de inflamação
crónica, através da redução de açúcar e alimentos processados, ingestão de
água, realização de exercício físico,
redução do stress, suplementação e descanso adequados.
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